Este é o primeiro artigo de uma série de 4 artigos que irão tratar sobre o tema gestão de empreendimentos rurais com uma perspectiva administrativa dos negócios

A abertura desse texto se dá com a breve explicação do que motivou o esforço em construir uma sequência que abordará o tema de gestão voltado para os empreendimentos rurais no Brasil.

O assustador número de quase 6,5 milhões de propriedades rurais no Brasil que contabiliza o boletim do Serviço Florestal Brasileiro (SFB) demonstra que o alcance potencial dos conceitos e exercícios propostos tem enorme serventia para um grande e diverso público. A maturidade na gestão desses empreendimentos rurais é o ponto chave que colocaremos em pauta, não só levantando informações sobre o setor, como é o objetivo deste primeiro artigo, como também propondo reflexões e saídas para os principais pontos considerados críticos pelos autores.

Para compor uma cadeia alimentar capaz de atender 8 bilhões de pessoas, existem mais de 600 milhões de propriedades rurais espalhadas ao redor do mundo, sendo cerca de 90% desses empreendimentos operados por famílias¹. Desde a produção para subsistência até os maiores empreendimentos, contribuem direta ou indiretamente para a chegada de alimentos à mesa das pessoas, por meio de agroindústrias, cooperativas, supermercados, hipermercados entre outros.

Thomas Malthus, economista e sociólogo britânico que viveu em 1766, estaria certo em uma de suas principais teorias, afirmando que as gerações futuras sofreriam com a falta de alimentos, por conta do crescimento populacional que superaria a capacidade humana de produzir alimentos, isso se não fosse o fato da tecnologia, algo que não fazia parte da sua equação, é claro, mudar completamente e constantemente as noções do que é e não é possível. Uma produção brasileira que em 1977 era de 47 milhões de toneladas e em 2018 chegou a 237 milhões de toneladas, com um crescimento nesse período de apenas 60% em área plantada ², expressa um ganho produtivo que carrega como principal responsável o avanço contínuo da ciência e tecnologia.

A evolução dos resultados produtivos e econômicos não responde à nenhuma fórmula atemporal, isso porque as variáveis são incontroláveis e até imprevisíveis. O fato é que o campo da ciência e tecnologia atua veementemente para promover defensivos, fertilizantes, vacinas, medicações, rações entre outros. que tragam ganhos em produtividade. Por isso, a produtividade e a diminuição do número de produtores é algo natural que se dá a partir do mundo de hoje, envolto por suas particularidades, que não as mesmas da época de Malthus, nem mesmo da época dos nossos avós, e não deverá ser a mesma da época dos nossos filhos. Uma vez que a eficiência, expressa dentre outras pela produtividade, é o fator que destaca os players que se mantém nesse mercado cada vez mais exigente e com menor espaço para o “amadorismo”, o produtor precisa buscar atingir o maior nível de eficiência possível, algo que esperamos contribuir com essa série.

Fator Etário no Agronegócio:

Nas últimas décadas, o agronegócio passou por mudanças significativas, e uma delas é a composição etária dos profissionais envolvidos nas atividades de campo. Entre 2013 e 2017, houve um aumento no número de pessoas entre 26 e 35 anos, enquanto as faixas

etárias de 41 a 50 anos e 51 a 60 anos diminuíram em 20% e 12%, respectivamente ³ nessas atividades. Além disso, as mulheres estão ocupando posições de destaque no setor, aumentando significativamente sua atividade e sua representatividade. Como fator de influência para esse movimento, a sucessão tem sido observada no agronegócio e está formando uma cadeia de profissionais jovens e diversos com maior nível de informação e valorização da inovação e qualidade da produção agropecuária.

Fator Sustentabilidade:

Com a conscientização global que vem pressionando cada vez mais para agregação da sustentabilidade às práticas em todos os meios, o agro, como produtor de alimentos, não pode deixar de prestar muita atenção ao tema. O Brasil, como um importante produtor de alimentos, enfrenta discussões sobre como melhorar a sustentabilidade e reduzir os impactos ambientais dentro das atividades agropecuárias, atividades de grande impacto. O Ministério do Meio Ambiente estabeleceu diretrizes para alcançar esses objetivos, incluindo o combate ao desmatamento ilegal, a restauração de florestas e o uso de energias renováveis, em metas bem estabelecidas com prazo de cumprimento até 20304.

Apesar das metas, o que importa a frisar nesse tema é o quanto é possível para o produtor se adaptar e evoluir de forma sustentável, considerando que ele depende de toda uma cadeia que precisa trabalhar em sintonia para atingir o que está proposto dentro do prazo previsto. Esse ponto de reflexão é o que se deve ter atenção nos próximos anos, afinal, já estamos em 2024.

Fator Digital e Tecnologia:

O fator tecnologia deve ser abordado olhando dois temas muitos importantes para o produtor e para o agronegócio como um todo:

O primeiro se refere à agricultura de precisão, um dos destaques no uso da tecnologia no agronegócio. Ela permite aplicações mais precisas de insumos, otimização do tempo de máquinas e mão de obra. A telemetria e a automação são pontos chave nesse contexto, possibilitando que máquinas operem com precisão ímpar, economizando insumos e integrando-se aos sistemas dos empreendimentos rurais, acessíveis pelo produtor até mesmo pelo celular. Há 20 anos não passava pela cabeça do mais otimista dos produtores que um dia haveria esse nível de controle e gestão.

O segundo tema são as fintechs, que por sua vez, desempenham um papel crucial na digitalização e tecnologia do agronegócio. Essas soluções financeiras unem finanças e tecnologia, democratizando recursos para os produtores. Além de melhorar a documentação das atividades, as fintechs fornecem informações sobre o potencial produtivo e o perfil de risco do produtor, oferecendo recursos e taxas atrativas para o setor.

Falar em caminho certo é impreciso quando se trabalha com a quantidade de variáveis que lida o agronegócio, mas trabalhar com tendências é necessário para buscar alguma previsibilidade. Com isso, considerando as mudanças vistas nos últimos anos só se pode concluir que que a adaptação é essencial para permanecer competitivo no mercado.

Os diferentes tamanhos de empreendimentos rurais vão apresentar desafios específicos, mas que compartilham de algumas dores comuns, como a falta de registros agrícolas adequados, a ausência de regras mínimas de gestão administrativa de pessoas, processos e recursos, e outros que acarretam perdas e prejuízos, fardos que para esse novo ambiente

do agronegócio, focado em produtividade, podem ser fatais. Em outras palavras, os resultados da produção podem ser comprometidos pela ineficiência, seja na operação, no controle do fluxo financeiro, nas compras, na comercialização, controle de estoques etc.

Concluída a abertura com um pouco do que se considera importante no universo dos empreendimentos rurais, a sequência desta série trará em conceitos, exemplos e reflexões acerca do planejamento, com o objetivo de apresentar as dores comuns e trabalhar sua melhoria dentro da gestão de empreendimentos rurais, marcando mais uma contribuição que se espera ter valor nesse tema ao leitor.

Referências:

1 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ALIMENTAÇÃO E A AGRICULTURA. Pequenos agricultores familiares. Plataforma de Conhecimento da Agricultura Familiar. Disponível em: https://www.fao.org/brasil/noticias/detail-events/pt/c/1397857/. Acesso em: 17 jul. 2024.

2 COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB). Séries Históricas das Safras. Disponível em: https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/serie-historica-das-safras. Acesso em: 19 jul. 2024.

3 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo Agro 2017: população ocupada nos estabelecimentos agropecuários cai 8,8%. Agência de Notícias. Disponível em: https://ibge.gov.br. Acesso em: 21 jul. 2024

4 CASA CIVIL. Brasil se compromete a reduzir emissões de carbono em 50%, até 2030. Disponível em: https://www.gov.br/casacivil/pt-br/assuntos/noticias/2021/novembro/brasil-se-compromete-a-reduzir-emissoes-de-carbono-em-50-ate-2030. Acesso em: 21 jul. 2024.