Matheus Alberto Cônsoli

Desde a virada desse século, há pouco mais de 20 anos, muitas coisas mudaram na estrutura e
dinâmicas do setor de distribuição de insumos no Brasil.

Muito influenciado pelo efeito do crescimento asiático, o boom de commodities e também as
melhorias na perspectiva econômica brasileira, o agronegócio viveu um período de grande
expansão de produção de grãos, alimentos, proteínas e biomassa, com crescimento nas áreas
agrícolas e elevada adoção de insumos e tecnologias na agricultura e pecuária.

No início desse processo, apesar de já existirem diversos agrodistribuidores e cooperativas
espalhados pelo Brasil, a grande maioria ainda era de pequeno porte, com níveis de
profissionalização e atuação geográfica, comercial e técnica relativamente limitados.

Eis que desde meados dos anos 2000 até final da década de 2020, muitas evoluções foram
observadas no negócio de distribuição. A começar pela expansão, muitas vezes fomentada e
incentivada pelos parceiros fornecedores, que precisavam de uma rede de qualidade para escoar
seus produtos e aproveitar o crescimento que fez do Brasil um dos principais mercados de
insumos agropecuários do mundo e se tornou referência na produção e exportação de produtos
do agro.

Junto com essa expansão, veio a necessidade de melhorar os níveis de profissionalização, com
temas de gestão financeira/crédito, melhorias de processos comerciais e de geração de
demanda, bem como governança, gestão de equipes, entre outros. Nesse processo de
desenvolvimento, com o crescimento do número de lojas, equipes de campo e também oferta
de produtos, marcas e tecnologias, várias novas modalidades de negócios, como as ferramentas
de Barter, gestão de riscos, adoção de tecnologias digitais e serviços foram ganhando relevância
nos negócios e ofertas ao produtor.

Nesse período a distribuição, com suas equipes técnicas apoiaram a difusão de novas tecnologias
de manejo, plantio, assistência técnica e também foram responsáveis por capacitar produtores
na adoção de novas práticas, como plantio direto, uso de novas tecnologias como nutrição
especial e produtos biológicos, apenas para citar algumas.

Naturalmente, o setor se desenvolveu, cresceu e ganhou muita relevância no agro, mas superou
também vários desafios. Nesse período vivenciamos ao menos três crises econômicas mundiais,
crises climáticas, momentos de excesso de estoques e desafios de suprimentos de produtos,
além de uma pandemia que paralisou todo o mundo, mas que não impediu as atividades
agropecuárias de se manterem em produção, garantindo o fornecimento de insumos e produção
de alimentos.

Com todo esse histórico de desenvolvimento e superação de desafios, o setor encontra-se
atualmente bem mais consolidado, entretanto os riscos e níveis de alavancagem financeira
(devido elevados custos de capital) são um dos desafios recentes. Para os próximos anos, os
temas de consolidação e novos modelos de negócios provavelmente serão muito presentes nos
desafios ainda a serem enfrentados.

Somemos a isso, a necessidade de mão de obra qualificada, maior intensidade na adoção e
oportunidades/riscos que as tecnologias digitais, ferramentas, plataformas de e-commerce/marketplaces, e inteligência artificial ainda trarão para as atividades, negócios e
ofertas ao produtor e que demandarão novas transformações robustas no negócio de
distribuição.

Me arriscaria a dizer que temas de variabilidades de preços, câmbio e clima, com aspectos de
digitalização e novas tecnologias, somado ao desafio de gestão de pessoas e eficiência logística
serão importantes drivers para o negócio de distribuição nos próximos anos. E que nunca nos
esqueçamos das conquistas do passado, mas continuemos mirando os desafios e oportunidades
do futuro….ah, e boa gestão nunca sai de moda! Bom trabalho e sucesso a todos!