Por Fernando De Cesare Kolya

No dia-a-dia de consultoria nossos clientes se deparam frequentemente com o dilema de como preparar um sucessor para os negócios, afinal como “acertar a mão”? Se preocupam também com o fato de não terem candidatos na família para assumir o posto de sucessor. Esquecem-se geralmente que se por um lado não há sucessores, por outro, a próxima geração é herdeira! Não importa que você tenha um negócio de comércio, indústria ou agropecuária e que seu filho seja advogado e sua filha seja médica, a próxima geração deve ser preparada para ser dona do negócio. A questão que se coloca é “como preparar herdeiros e como preparar sucessores”?

A formação dos herdeiros pode começar desde cedo (início da idade adulta) e deve ser um processo contínuo e que deve estimular a interação dos futuros donos com os sócios atuais e demais familiares, no processo de tomada de decisão. Para tal, a empresa pode estimular a criação de um “conselhinho”, que é um fórum parecido com o conselho de administração, mas sem tomada de decisão real. Na prática o “conselhinho” avalia e discute os resultados do negócio, as estratégias adotadas e treina os herdeiros para o papel de sócio. Mas adiante os herdeiros podem passar a participar de reuniões de conselho de sócios, com o objetivo de compreender mais a fundo a dinâmica do negócio. Em um estágio mais avançado o herdeiro pode assumir uma posição de tomada de decisão efetiva como sócio, com aconselhamento e poder de veto pela geração anterior. Com isso, o herdeiro estará treinando a tomada de decisão real, mas com o respaldo e segurança de alguém já experiente. Em algum momento, mais adiante, o herdeiro poderá assumir algum nível de decisão sem veto, até que um dia venha a assumir por completo o papel de dono. Formações complementares em áreas técnicas são bastante importantes, como o conhecimento sobre finanças, estratégia, direito societário e governança. Igualmente importante é a criação de vínculos com a empresa e seus principais gestores. Isso pode ser tralhado com o tempo, pela participação em reuniões de acompanhamento dos resultados dos principais gestores ou mesmo com interações desenhadas especificamente para que os herdeiros tenham contato com os estes gestores. Um resumo de como pode se dar a formação de um herdeiro é apresentado no quadro abaixo.

A formação de sucessores, ou seja, daqueles que assumirão com o tempo o papel de gestores do negócio, passa por um processo um pouco diferente. Como gestor, há naturalmente a necessidade de se desenvolver outras habilidades. A necessidade de formação técnica se torna maior, bem como a compreensão das diferentes áreas da empresa, liderança, relacionamento com clientes, fornecedores e colaboradores. Igualmente importante é a legitimação, perante à família, do potencial sucessor. Uma maneira de treinar um sucessor é promover programas internos para acelerar o seu desenvolvimento como futuro gestor do grupo. Pode ser criado um programa de “trainee” especifico para a formação de sucessores. Em estágio inicial o candidato assumirá atividades bastante triviais, para testar suas competências e desempenho como gestor.

Paralelamente a isto, o candidato deve fortalecer seu trânsito na família, com atividades de integração. Vencida esta fase, que pode durar de alguns meses a até alguns anos (2 a 4 anos), a fase seguinte é a de consolidação daquele potencial sucessor, com a tomada de alguma posição de gestão, mas não ainda como o executivo principal. A passagem definitiva para o cargo de principal gestor deve ser muito bem avaliada, é preciso tomar cuidado para não “queimar o herdeiro” com sua ascensão antes da hora.

Para os dois casos (herdeiros ou sucessores), ressaltamos que existem aspectos importantes dos negócios que não se apreende em sala de aula, com treinamentos ou conversas. A vivência neste caso é a chave para o sucesso de um herdeiro e de um sucessor. O processo de passagem de bastão é repleto de emoção, e como na corrida, quem dá continuidade precisa durante algum tempo correr próximo a quem está nos momentos finais. Passagens bruscas aumentam o risco de deixar o bastão cair.

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